sexta-feira, 27 de junho de 2014

Os Três da Vida Airada

                                                                 Os Três da Vida Airada
Santo António era maroto
As bilhas às cachopas partia
Divertido como um garoto
Delas tinha a simpatia.

São João disse baixinho
À rapariga tripeira
Anda, toma meu carinho
Vamos saltar à fogueira.

São Pedro guarda as chaves
Escancara as portas do céu
Quando com batidas suaves
Apareço com meu Romeu.

Pela NET os três vão rindo
Levando alegria e amizade
A saltar e a brincar, ó que lindo
Mas que santa irmandade
(Passó)
28-06-2014

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Vó Passó

Passó é um heterónimo de... mim (Preciosa)
                                                 Histórias Vividas
                                                 Vó Passó
P... prestável
R...renascida
E... emotiva
C... carinhosa
I... inteligente
O... opala
S... sonhadora
A... amiga
:- Preciosa? Mas que nome tão comprido! A partir de hoje passas a chamar-te Passó.
Disse a minha amiga Beca a quem agradeço tudo o que sei de costura.
A moda pegou. Os amigos mais chegados assim me começaram a tratar.
Mas tinha um sabor especial na voz do meu irmão mais novo, que Deus levou, deixando-me muitas e boas recordações.
:- Passó estás bem?
:- Precisas de alguma coisa, Passó?
:- Passó, há por aí uma cervejita, aqui para o mano?
:- Eu sei que não fumas, Passó mas...
:-Passó, mais um anito? Estás a ficar velhota! Parabéns.
:- Feliz Natal, Passó, e que o Ano Novo nos traga mais felicidade.
Poucas pessoas hoje em dia me tratam assim...
É incrível como conseguimos guardar tantas memórias!
Éramos todos pequenos, sentados em volta do lume, ele, o mais novito sentindo sede, começou numa ponta, delicadamente...
:- Ó Génho dá-me auga. (água) O Eugénio nada.
:- Ó Fonando dá-me auga. O Fernando não se manifestou.
:- Ó Pexósa dá-me auga. A Preciosa moita carrasco.
Danado, levantou-se e com as mãos na cintura, no alto do seu tamanho (2 ou 3 anos)...
 :- Ó muninos (meninos) vocês não vêm que quelo (quero) auga?
Com o passar do tempo, tudo se renova e é com redobrada emoção que ouço o meu neto...
:- Vó Passó anda...
:- Chau Vó Passó...
É só Vó Passó para aqui, Vó Passó para acolá!
Obrigada, meus filhos, por o terem ensinado assim! Neste meus filhos também está o meu genro.
(Passó)
26-06-2014

domingo, 22 de junho de 2014

O Presente

                                                        Histórias Vividas
                                                         O Presente
O Leãozinho sempre foi levado da breca!
Responsável o quanto baste, inteligente mas preguiçoso...
Não me vou demorar a tecer-lhe qualidades, não me fica bem, pois sou suspeita!
 Numa 6ª feira sou chamada à escola, (A VOZ do Operário) e diz-me a professora de português:
- À um mês que estou a adiar um trabalho porque o Leãozinho ainda não leu O Cavaleiro da Dinamarca.
 Eu fiquei como devem calcular e respondi:
- Pode fazê-lo na 2ª feira. Garanto-lhe que  O Cavaleiro da Dinamarca vem na ponta da língua, de trás p' rá frente e vice-versa.
Nesse fim de semana, fiz a lida da casa acompanhada do Leãozinho enquanto ia lendo o livro.
- Na Primavera o cavaleiro deixou a floresta e etc.
-Fecha o livro e conta-me, por palavras tuas, o que já leste!
- Blá... Blá... Blá...
E assim foi até chegar ao fim.
Como todos os leõezinhos era muito brincalhão!
Gostava muito de desporto, que ainda hoje pratica, chegando a ponderar fazer disso a sua profissão!
Desde capoeira, bola, corridas, enfim estava sempre em movimento.
Um dia a jogar à bola, na escola, partiu um pé! Nada de mais, gesso, canadianas, com que fazia verdadeiras acrobacias,  e tempo passado era o que precisava...
Chegou o dia de tirar o gesso e de manhã lá fomos. Tarefa cumprida o Leãozinho vai p' rá escola e eu p' ró trabalho; nesse mesmo dia mas de tarde...
- Vem atender esta chamada, é da escola do Leãozinho!
Pego no telefone e...
- Não fique preocupada, o Leãozinho, na brincadeira, partiu o outro pé, está a caminho do hospital!
O meu trabalho era perto do hospital, quando lá chegaram já eu lá estava...
O Leãozinho foi crescendo e por razões que não vêm ao caso, em vez de Educação Física foi para Psicologia.
À cinco anos estando  de malas feitas para ir para França ( p' ra que não me chamem de presunçosa não vou entrar em pormenores) vem a ideia do presente:
-Para podermos falar e não gastar muito dinheiro podias comprar um computador!
- Burro velho não aprende música! Além disso tenho mais onde gastar o dinheiro! Disse eu.
- Eu ofereço... responde ele.
Os dias foram passando e na véspera  de ir embora, muito atarefado com mil coisas para fazer, diz-me:
- Despacha-te vamos comprar o computador!
De má vontade lá fui. Escolhemos, ele pelas competências, eu pela cor!
Quando fomos para pagar o Leãozinho apercebeu-se que não tinha a carteira. Tinha-se esquecido dela no carro.
- Pagas tu que eu, depois, dou-te o dinheiro! Até hoje não vi a cor dele!
Mas foi um dos melhores presentes que o Leãozinho me "ofereceu" até hoje!
(Passó)
22-o6-2014



 

sábado, 21 de junho de 2014

A Candy

                                                       Histórias Vividas
                                                       A Candy
Quem diz que os animais não falam?
Quem duvida que tenham sentimentos?
Apenas aqueles que não tiveram oportunidade de conviver, no dia a dia, com um!
A minha Candy era mais uma "pessoa" inserida no meu agregado familiar, chegando ao ponto do meu genro quando me falava perguntar:
- Está tudo bem sogrinha? E a minha "cunhada"?
Tinha um sofá só dela, tanto em Lisboa como na Carregueira. À janela para cuscar.
O melhor lugar à lareira era dela. E como ela gostava do quentinho!!!
Apareceu lá em casa ao colo dos meus filhos dizendo que a tinham encontrado, num buraco, na Serra de Sintra. Mentirosos.
O certo é que conseguiram ter um cão, com a ajuda dum amigo veterinário:
   -Passó, ela não vai crescer muito! Mentiroso.
Era uma bola de pelo fofinho, cor de mel no dorso, branco  no peito, preto no focinho e na ponta da cauda. Muito pequenininha.
 Uma hora antes de chegar a casa, já os meus filhos sabiam que eu lá vinha. Mesmo que não fosse a hora habitual.Quando tocavam a campainha, ainda que fosse na rua, cinco andares abaixo, se era gente de casa, aí vinha ela  com a pata e a falar a língua dela para que lhe abríssemos a porta. Não desistia até que isso acontecesse. No patamar, sentada, esperava que o elevador chegasse. Que alegria era! Se fosse gente estranha ladrava desalmadamente.
 Quando a Cláudia casou começou a ficar muito triste, apática, deixou de comer, de beber... tivemos que a levar ao veterinário que depois de a examinar, não encontrando nenhuma razão para o seu estado perguntou:
 - Desde quando esta menina está assim?
Olhando um para o outro, responde o Sérgio:
 - Desde o casamento da Cláudia.
 A nossa bichinha fez uma depressão! Foi medicada com químicos e com doses duplas de carinho.
 Prevendo o que iria acontecer com a chegada do Guilherme, meu neto, comprámos  uma boneca, a Matilde. Não tenho palavras, foi fascinante o seu comportamento. A boneca dizia, entre outras palavras, mãe... palavra que ela conhecia perfeitamente:
 - Vai pedir à mãe!
 - Anda cá à mãe!
 Finalmente o Guilherme chegou para alegria de todos mas...
 Ela até gostava dele, se chorava, muito diligente lá vinha ela " dizer-me" como se eu não tivesse ouvido.
Partilhavam a manta, no chão, enquanto o lambia ele fazia-lhe festinhas, partilhavam o sofá mas partilhar o colo? Ela não achava nenhuma graça!
Um dia de rabugice do Guilherme, coisa rara, em que queria colinho ambulante, foi "dramático"!!!
Conseguindo acalmá-lo, sentei-me no sofá dela, com ele no colo e pasme-se...
 A Candy deitou-se ao nosso lado, no chão, sossegadinha e com uma das patas, olhando para nós, abraçou-se à minha perna. Fiquei enternecida com mais essa prova de cumplicidade.
  Entre todas as suas capacidades de inter agir, chegando a ser a minha tábua de salvação, destaco a de despertador! Sem falhar um minuto, durante toda a sua vida, acordava-me na hora certa...
 Morreu aos 15 anos (correspondente a 76 no homem) de AVC, deixando muitas saudades em todos os que a conheceram.
 (Passó)


 


segunda-feira, 16 de junho de 2014

Estrela da Sorte

                                                          Histórias Vividas
                                                          Estrela da Sorte
Diz quem sabe que todos temos uma estrela da sorte que nos guia e protege.
Eu tenho a minha. Chama-se Sol.
É uma estrela muito atarefada. Durante o dia tem que dar luz ao Mundo, de noite iluminar a Lua, não devendo com isso esquecer-se de me proteger.
Ao longo de muitos anos tudo correu bem. A minha vida era pacata e feliz, nada me faltava. Por isso a Sol tinha todo o meu apreço.
É também muito brincalhona e com as amigas Mimosa e Pálida, um dia, resolveram ir brincar com as nuvens Algodão, o Arco Íris e o Vento Zéfiro, o mais calmo dos irmãos.
Saltando de nuvem em nuvem, embaladas pelo Vento Zéfiro, chegaram ao Arco Íris que fazia de escorrega.
:- IUPI!!!Diz a Pálida que misturada com as cores do Arco Íris ficou toda corada.
:- Lá vou eu!!! Fala a Mimosa enquanto as suas manchas pretas cintilavam como uma árvore de Natal.
:- Áh... Áh... Áh!!! Ria a Sol feliz enquanto era empurrada suavemente pelo Vento Zéfiro.
Os irmãos do Vento Zéfiro, o Vento Bóreas, frio e violento, o Vento Eurus, criador de tempestades e o Vento Noto, quente e formador de nuvens más, vendo toda aquela alegria, furiosos por não quererem brincar com eles, decidiram acabar com tanta euforia.
Entre eles formaram uma tal tempestade que o Céu escureceu.
A Sol, a Mimosa e a Pálida, protegidas pelo escudo do Vento Zéfiro, tentaram resguardar-se no regaço das nuvens Algodão, escondidas atrás do Arco Íris.
A tempestade era tão forte que não aguentaram. Perderam-se uns dos outros. O Arco Íris desfez-se.
A Sol caiu num buraco negro e lutou até à exaustão. Já não deu conta de ser amparada pelos amigos.
De tão cansada adormeceu profundamente. A Mimosa e a Pálida, muito preocupadas, não a quiseram acordar.
Assim eu fiquei um dia sem proteção. Foi o bastante para que o Mundo desabasse sobre a minha cabeça. Fiquei completamente desnorteada sem saber o que fazer, nem perceber o que tinha acontecido.
Nisto chegam a Sol e as amigas montadas nas nuvens Algodão, embaladas pelo Vento Zéfiro.
A Sol muito ralada e chorosa conta o que se tinha passado. Pedindo desculpa dava-me beijinhos e abracinhos quentinhos para me consolar.
Tal como a Fénix renascida das cinzas, ergui a cabeça e disse;
:- Não te preocupes, não tens culpa de nada, a vida tem que continuar.
Ainda hoje a Sol é minha guia e protetora tendo toda a minha confiança.
(Passó)
16-06-2014 
  

sábado, 14 de junho de 2014

Café Central

O café Central mais conhecido pele café da ti 'Ana , era o nosso ponto de encontro aos domingos.
Era único na Carregueira. Ali íamos para ver televisão, coisa rara nesses tempos, enquanto bebíamos
uma gasosa ou uma laranjada (da Ramalha) e comíamos tremoços, amendoins e pevides trazidos para a mesa pela ti 'Ana sempre com a recomendação:- Não façam barulho nem lixo, as cascas não se deitam pró chão.
Para nós era uma ordem. Assim que o sol começava a entrar pela janela, lá vinha a ti ' Ana baixar a persiana  dizendo que as meninas não se queriam "escarameladas". Para nós era um encanto deixando muitas saudades.
Havia dois grupos, as miúdas, onde eu me enquadrava e as crescidas noutra mesa mais afastada.
Num desses domingos entraram duas pessoas, penso que seriam  jornalistas, de "O Mirante" e dirigiram-se à mesa das crescidas a fim de fazerem uma entrevista sobre os hábitos de leitura.
Entre as perguntas e respostas retive estas.
:- O que leem mais? Autores portugueses ou estrangeiros?
A resposta veio rápida.
:- Portugueses.
:- E há algum que prefiram?
:- Max du Veuzit.
Não conhecia mas fiquei com vontade de conhecer. Já tinha lido alguns livros na escola.
À 4ª feira, depois de almoço, se o tempo estava bom fazíamos visitas de estudo; ao oleiro, ao lagar de azeite, ao moleiro, à Fonte da Carregueira, onde apanhávamos agriões que a D. Fernanda muito gostava...
Se estava de chuva ficávamos na sala a ler livros que a professora nos facultava. Cada um lia umas páginas. Entre alguns destaco As Pupilas do Sr. Reitor, A Morgadinha dos Canaviais, O Solar da Boa Vista, As Aventuras dos Cinco, Mulherzinhas ...
Coincidência ou não, fui trabalhar na tipografia Soares na Golegã, que também vendia livros, achei logo  que estava no sitio certo para encontrar o tal escritor... e encontrei mas não era português.
Mas, tendo-se dado o 25 de Abril, "conheci" outros como Alves Redol, e Soeiro Pereira Gomes que descreveram tão bem as vivencias amarguradas de alguns dos Ribatejanos e não só...
Ora um dia, numa matança de porco encontro-me com uma das "crescidas" e desatei a rir desalmadamente de tal maneira que não conseguia falar ao recordar toda a história que demorou certamente mais de dois anos até eu encontrar Max du Veuzit.
Só uma pessoa ficou a saber porque me ria assim e infelizmente já não se encontra entre nós, com muita pena minha.
( Passó)