sábado, 14 de junho de 2014

Café Central

O café Central mais conhecido pele café da ti 'Ana , era o nosso ponto de encontro aos domingos.
Era único na Carregueira. Ali íamos para ver televisão, coisa rara nesses tempos, enquanto bebíamos
uma gasosa ou uma laranjada (da Ramalha) e comíamos tremoços, amendoins e pevides trazidos para a mesa pela ti 'Ana sempre com a recomendação:- Não façam barulho nem lixo, as cascas não se deitam pró chão.
Para nós era uma ordem. Assim que o sol começava a entrar pela janela, lá vinha a ti ' Ana baixar a persiana  dizendo que as meninas não se queriam "escarameladas". Para nós era um encanto deixando muitas saudades.
Havia dois grupos, as miúdas, onde eu me enquadrava e as crescidas noutra mesa mais afastada.
Num desses domingos entraram duas pessoas, penso que seriam  jornalistas, de "O Mirante" e dirigiram-se à mesa das crescidas a fim de fazerem uma entrevista sobre os hábitos de leitura.
Entre as perguntas e respostas retive estas.
:- O que leem mais? Autores portugueses ou estrangeiros?
A resposta veio rápida.
:- Portugueses.
:- E há algum que prefiram?
:- Max du Veuzit.
Não conhecia mas fiquei com vontade de conhecer. Já tinha lido alguns livros na escola.
À 4ª feira, depois de almoço, se o tempo estava bom fazíamos visitas de estudo; ao oleiro, ao lagar de azeite, ao moleiro, à Fonte da Carregueira, onde apanhávamos agriões que a D. Fernanda muito gostava...
Se estava de chuva ficávamos na sala a ler livros que a professora nos facultava. Cada um lia umas páginas. Entre alguns destaco As Pupilas do Sr. Reitor, A Morgadinha dos Canaviais, O Solar da Boa Vista, As Aventuras dos Cinco, Mulherzinhas ...
Coincidência ou não, fui trabalhar na tipografia Soares na Golegã, que também vendia livros, achei logo  que estava no sitio certo para encontrar o tal escritor... e encontrei mas não era português.
Mas, tendo-se dado o 25 de Abril, "conheci" outros como Alves Redol, e Soeiro Pereira Gomes que descreveram tão bem as vivencias amarguradas de alguns dos Ribatejanos e não só...
Ora um dia, numa matança de porco encontro-me com uma das "crescidas" e desatei a rir desalmadamente de tal maneira que não conseguia falar ao recordar toda a história que demorou certamente mais de dois anos até eu encontrar Max du Veuzit.
Só uma pessoa ficou a saber porque me ria assim e infelizmente já não se encontra entre nós, com muita pena minha.
( Passó)

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